sábado, 27 de fevereiro de 2021

Dasanas

 


 

Quando nasceu receber o nome Dasanas. Das Dores e Ana era o nome das avós. Chegou ao mundo, tão miúda e enrugada, berrando aos quatro cantos do quarto, feito de tapa e tapera, que não queria nascer naquele telhado em frente ao rio, pois os rios sempre tem mais de duas margens. Que preferia o mar com sua (i)mansidão ou o açude feito de água doce e barrenta. Do leite, não gostou, tampouco do caldo de feijão. Gostava era de banana diluída, molinha, quase machucada. Talvez fosse a herança de Das Dores. Talvez fosse a herança de Ana, cuja fruta já inscrevia um o-caso. Nasceu, disseram, como um milagre, numa casa de muitos varões. Mas já nasceu sob o signo da morte, pois caso não tivesse emergido naquela hora, naquele dia, naquele minuto, talvez a sua progenitora não tivesse sobrevivido. Estranho, muito estranho, pois ela era boa de nascedura. O caso era que Dasanas nunca gostou da ideia de parto, partida, parteira, queria era mesmo era estar parada, pois dos p(s) que aprendeu a gostar de ouvir e viver na vida era o p de puta. E assim ela o fez, foi ser p da vida.

Quando moça ainda conheceu Pablo, moço do bigode fino, da fala macia, da tez dourada, do corpo torneado, dizendo, filha, sai dessa vida, eu quero te ter, te envolver e seduzir, como na música da Marina. No p que estava, acreditou nas falas das ou-vidas e foi. Não demorou muito, voltou a ser p. Aquilo não era vida. Vida e morte, dores e rezas, Dasanas foi ficando cansada, trincada, Pois se fossemos dizer sem meias Palavras, alquebrada. Oh, vida. Toda noite, se esvaia um Pouquinho. Contudo, Das Anas não estava sozinha, dessa vida que se vai, sendo marinada na morte, eram muitas as Anas. P que p. Como ela, muitas dançaram p(s) que eram, em meia luz, “é tão difícil olhar o mundo e ver o que ainda existe”. Dasanas morreu, vítima de Covid, uma p doença, num País p desorganizado. Enquanto a música continuava na velha jukebox, “Eu acho que você nem se lembra mais”. Só você, feita de dores e bananas. P q P.