quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Dos lençóis dedor maranhenses

 

Emerge um sussurro, como se fosse um zumbido, por trás dos morros, daqueles que nem cabe ao mar escutar.  As claritudes do branco do riachinho, das lagoas, dos dias que me foram prometidos, eram rã, eram lama. Tudo era alegoria dos que me prometeram as imagens do infinito, quando tudo era precipício. Lá não tinha água, não tinha a vista, não tinha flor, era deserto puro, que exigia de todos os chapéus necessários para se protegerem do sol.

- Vem o coro e diz – Você será feliz, profetizou.

Esperei pela grama que plantei durante 200 anos. Ela não enverdou. Não ramou, não falou línguas outras, empacou igual um carro sem forca, quiçá, força, para subir uma ladeira. E, eu, apenas ali, na imensidão do que pode tudo, achei que estava montando o mundo em mim, todo aguado, dizendo quase assim, serei feliz.

- Vem o coro e diz: como arar um deserto?

Com um soneto, ela pensou.

- Vem o coro e diz: rsss e kkkkkk

Das risadas escutadas, sem dizer adeus a tanta aridez, fez belas imagens e memórias enevoadas de tudo que acontecera. A medida já não era do gramado, era a de ontem e a de hoje.

- Vem o coro e diz: mais uma escrita de si?

Não, respondeu ela, é sobre meu jardim, cuja cadência toda absoluta, eram garras de luto, de cólera, dedor, sem espaçamento nenhum, são muitas pedras no jardim e nem sou um maldito Drummond.

- Vem o coro e diz: que heresia...

Ela até tentou sorrir e na tonteria sentiu seu coração miúdo, moído, molestado, cansado, quase parado.

- Vem o coro e diz: sabedoria sem paralisia.

Ouviu e pensou, que coro fudido é esse, que fica a martelar, tentando colher flor, quando eu só queria uma grama verdejante?

- Vem o coro e diz: Das dores, você não nos serve mais, com uma exclamação.

Ele pensou, que porra de sonho estranho, enquanto alongava seu pescoço. Apenas desejando, cá consigo, a precisão de travesseiros novos. Ainda é madrugada e amanhã tenho muito o que fazer. E, assim, fui lá de novo engolir minhas 13 gotas de Dramin, como a dizer, ainda tem, 200 minutos e assim serei feliz.

- Vem o coro e diz: hahahha...como se fosse um rasgo.

Foda-se, pensou ele, continuando a escovar seus dentes, os que ainda lhe restavam, nem de música gosto. Quando chegou no trabalho, era o aniversário do seu chefe, o som estrondava, pois alugaram um karaokê, um depois do outro, afogueados grunhiram, não nos abandone, cante junto disse aquela cidadela, quando me fiz coro, rapidamente lembrando do meu sonho e que de todos que ali se presentificaram, era eu que menos ganhava ou que menos era ouvido. Fiz coro sem vocalizar. E assim, permaneci, sem dedor nenhum.

- Vem o coro e diz: Nunca se iluda. Muitas vezes a safira é apenas uma esmeralda que, sem os 200 minutos da razão que você planta, é um cinza qualquer.

Que merda, esse coro ainda existe, mesmo que já esteja a-cor-da-do.