segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Agosto de Deus



Veio assim desaforado. Era agosto, como sempre agosto tinha de ser. Quando ele punha as mãos em mim, me molhava toda e me repreendia imediatamente. Não que ele tocasse aquilo que não poderia ser tocado, não antes que nós cassássemos. Já havia dito, ele não era um desavisado, só depois, depois das bençãos. Depois tiraríamos os atrasos. Mas ele tinha pressa. Era da minha igreja, por que não percebia? Não percebia que teríamos o tempo todo do mundo. Mas ele tinha pressa, e me amassava entre um culto e outro. E eu dizia: está bom, ele dizia em seguida, está ótimo, tão rápido quanto suas mãos. Apenas achava graça do trocadilho. Não sei se era pelo frescor dos meus dias, se era pela vontade de repreender ou pelo fato de que não nos beijávamos. No íntimo, rejubilava-me ao relembrar que as putas não beijavam. Era o meu corpo, era a minha boca, e qualquer coisa mais íntima me desagradava, me deixava degradada. A mim e ao meu Deus.  Mas era agosto e ele me disse, me toque! Eu o toquei, não sem medo, me lembrei dos mil infernos, dos demônios todos, do meu pai que já era falecido, do sermão do pastor que me alertava o tempo inteiro e quanto mais eu lembrava mais molhada ficava, derretida, como se meu corpo fosse um outro, aquele do inferno, com as mulheres com as curvas todas, me achando sexy, me figurando entre elas. Eu era uma delas. Não, eu não era, não sabia onde colocar as mãos, nunca tinha tocado um corpo rijo. Eu era de Deus. Queria dizer tudo isso.  Mas não tive tempo, Meu Deus, você sabe que não tive tempo, porque você estava dentro de mim. Mas bem que você podia ter saído naquele momento, podia ter dado passagem a ele que me fez a corte. E aí, me dei mal, nem estava com ele nem com o Senhor. E o Senhor me atrapalhou. Me atrapalhou, com as vozes todas  que falavam em seu nome. É, essa foi a minha vez, a minha primeira vez, a muita de outras.  Mas não foi minha simplesmente, foi nossa, e você, hoje, se atreve a me perguntar se foi bom, quando a única resposta possível é,  foi, foi a gosto de Deus.

4 comentários:

  1. "Mas ele tinha pressa, e me amassava entre um culto e outro". Vc escreve muito bem. Parabéns!

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  2. amei!!Parabéns Elisa, são ótimos os seus textos. Quero mais!!

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  3. Criatividade parou em você professora, Parabéns!!!

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  4. Pois foi AGOSTO mesmo... a gosto de Deus, eita coencidencia esse texto viw! amei!

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