O cuidado que tive com ela foi o mesmo de digitar aqui,
medrosa que sou, de bagunçar a ortografia toda.
Mas esse conto não é sobre mim, quiça sobre ela, talvez, quem
sabe sobre uma sensação, de alegria pura, júbilo, como se finalmente as cartas
do baralho se alinhassem.
Nem foi o caso. Abri mão de muito para relatar o mínimo, tão
máximo, apenas 2 X 1.
Para explicar a ela, macho que sou, falei das jogadas do
futebol, falei do meio campo, do zagueiro, do que seria a trave... Ela apenas
me olhou, como se estrangeira eu fosse. Mal tinha me espacializado, decalcado
minhas terras todas, me vendo na situação de dizer para ela, logo para ela, o
que era o gol.
Na ausência de palavras, disse – goze, como quem goza o
bailarino. Ele ganha milhões; e ela, como quem indaga, por trás de todos os
óculos, e você?
Sei lá o que ganho eu, não estou para jogo nenhum, apenas apostei
minha vida. Apostei que poderia, apostei que o rinchadeiro todo não veria
acrescido das misérias do sertão. Apostei que, naquele jogo, teria a eternidade
pega entre os pés. E eu era apenas transeunte.
Mas era danada. E na danação, expliquei para ela. O jogo,
imbecilizado, de pernas a correr atrás da bola, nada mais é do que o jogo da
vida, daquele entremeado, em que você corre o corpo dela inteiro, horas depois,
toda suada, e diz – bola na trave.
E a coisa lhe consome, lhe toma toda, como se 75 minutos
fosse pouco e apenas lhe restasse a prorrogação.
De quem foi o gol? Que trave lhe
abateu, poderíamos conversar se o jogo já fosse ganho, se eu soubesse em que lugar
estavam as vírgulas, mas elas sempre foram um problema... uma vez corrido o
texto, no mínimo três pontinhos... como se o aberto de tudo fosse o fechamento
perfeito.
Nem foi o caso. A história da bola
rolou horrores. Do que me é permitido falar, sorrio das associações com o acasalamento,
riu como quem ri do riacho seco, daqueles de terra crestada, marcada pela
presença e pela ausência. De quem faz da vida, uma copa, como se num momento
apenas tivesse a verve e a verdade.
Mas choro junto, choro se pudesse
fertilizar as terras todas. Se me fosse permitido, sertão meu, jamais veria a
falta d água, o verde nos alcançaria e o gozo seu, e o meu, fertilizaria o mundo inteiro. E assim,
toda copa, seria como nós duas na cama, eu e você, gozando juntas.
maravilhoso.... tantos temas //entre//cruzados com tamanha fluidez... tantas cenas e possibilidades... que, agora, quero experimentar o gozo de conhecer o céu do sertão...
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