Teresinha
phoda, para os íntimos, bem íntimos. Fazia tempo que não sentia a chamada. Não que
o relógio tivesse parado, apenas ela não via mais o tique-taque das passagens,
ocupada que estava arrumando a casa, o tio, a conta, o carro, o trabalho... Ninguém
diria que Teresinha não phodia mais, parecia a única das mulheres que poderia
rir da demanda medonha dos dias ordinários, dando conta de tudo e de todos. Eram
muitos os seus agregados. Ora corria para acudir um, ora para socorrer outro. Sem
perder a poesia ou a maestria, como se ela fosse uma mangueira frondosa, ofertando
frutos e sombras para os que tinham fome e os que tinham calor.
Arvorejada, suculenta, preciosa em tempos de calor, também era especial nos dias de chuva, pois a quentura de seus braços era felpuda como um cobertor de 300 fios de algodão.
Arvorejada, suculenta, preciosa em tempos de calor, também era especial nos dias de chuva, pois a quentura de seus braços era felpuda como um cobertor de 300 fios de algodão.
Nunca
faltava um rasgar sorridente em seu rosto, anguloso, leitoso, alvo como as bonecas
dos filmes de terror. Tanta alvura fazia desconfiar das origens que dizia ter,
filha de cigana com um sarará. Provavelmente daí viesse o negrume de seus
cabelos, soltos, pesados, ondulando sempre como uma crina nunca cortada.
O
caso era que Teresinha estava cansada. Cansada de ser luz, de ser sombra. Tentou,
pouco a pouco, ir se desfazendo da rotina dos seus dias, mas ela parecia toda
uma primeira pele, difícil de descarnar. Já não sabia ser cobra.
A
pele então foi pesando, como se em cada um dos folículos tivessem cerzido um grão
de chumbo. Quem era o costureiro
maldito? Teresinha não sabia. Procurava nas mãos dos outros, as marcas de
agulhas. Procurava, como quem vistoria a casa depois de um assalto, por baixo
das camas, nos armários, por trás das portas, em qualquer lugar, os vestígios desse
artesanato medonho.
Teresinha
ficou triste, muito triste, tão triste, como ela apenas sabia saber sem que ninguém
soubesse.
Quando
da última promoção, com os parabéns dos colegas do seu departamento, ouviu, de
longe, - Teresinha é phoda, Teresinha deixou de sorrir. E resolveu phoder.
Teresinha
foi numa casa de depilação, esfoliou o couro todo e com a ajuda da esteticista,
tentou pinçar algumas gramas de chumbo. Saiu de lá se sentindo mais leve,
apenas algumas gramas mais leve. Sabia que teria que phoder. Quando estava indo
para casa, desejosa de ser despida, ouviu seu telefone tocar. Agora não,
pensou, sentindo a urgência toda. Mas era seu tio. Teresinha o atendeu. Já tinha
alguns dias que não o fazia. O tio, ao ser atendido, cantou, como sempre o
ouvia cantar desde pequena, o Teresinha de Jesus. Na pressa de atende-lo e
segurar as compras de sua nova lingerie púrpura, Teresinha foi ao chão. Caiu pesada,
apesar de se sentir mais leve. A voz do tio se quebrou, espatifada igual ao
aparelho.
Ao
tentar se levantar, Teresinha recebeu ajuda. Era um antigo conhecido, um
cavalheiro de tempos de outrora, que lhe ofereceu a mão. Teresinha aceitou. Das
mãos, vieram poesias, segredos trocados, promessas, cochichos ao longe dos
corpos. Músicas e vinhos, pensou Teresinha, pronta para phoder.
Teresinha
assim aceitou um encontro. Seria perto da casa de um ou de outro. Não era o
terceiro a quem Teresinha dava a mão, mas era o primeiro, há muito tempo, que
as mãos pareciam macias e sabedoras do que fazer.
E
assim, foi... Pronta a dar seu coração. A dar
seus seios. A dar sua boca. A dar seus
braços. A dar seus pés. Suas unhas. Seu suor. Suas orelhas. Seu cheiro. Sua bunda.
Suas costas. Sua nuca. Sua boceta. Seu gozo.
Mas
na hora da cama, o moço de mãos macias, não soube o que fazer com Teresinha. As
mesmas mãos que a levantaram do chão, pareciam concreto ao pegar em seu corpo. Teresinha
passou a noite. E de noite, ainda na cama, ficou lembrando da cantiga da
Teresinha. Não daquela que tinha um pai e um irmão. Tampouco da cantada por Chico,
ainda que essa a inspirasse.
Lembrou
da música que ouvia quando era bailarina. Da Teresa que não era inha. Assim,
levantou-se da cama, dizendo não quando o cavalheiro pediu que pernoitasse por
lá, foi ao banheiro, banhou-se. Recolou a púrpura de sua roupa íntima e pensou sobre
as costuras em seu corpo. Viu que sua pele era peso. Chumbo. E não desejou mais
trocá-la.
Ah
Teresinha, como você saiu bela de lá. Toda armadura. Sorriso frouxo. Enorme.
Enquanto
Teresinha ia para casa, foi engolindo o mundo. Entre o que engoliu, sem medo,
feliz pela pele que costurara, saiu phodendo com todos os cavalheiros e, quem
sabe, com algumas damas, que esbarrara no seu caminho para casa. Chegou farta,
comida, toda enterezada. Havia deixado o inha no banheiro do cavalheiro.
fiquei indócil para percorrer os fios do novo tapete. Deixei as obrigações em suspenso, corri para a leitura e encontrei o mais belo dos poemas em linhas de prosa. Toques fortes, profundos e generosos.
ResponderExcluirTeresinha é phoda! E essa escritora também! E na densidade desse corpo-poema, fiquei toda enterezada...
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