sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Não sei


Bote isso não amor. Ele não disse que recebia, todo mês, salário sim, salário não, por mais desinteressante que isso seja. Agora não, cheguei querendo funkear, ela disse, rebolando ele todo.
Mulher, veja melhor, você todo dia rebola. Eu nem rebolar gosto. Vc chega em casa, joga a camisa na minha cara, vai fazer o cuscuz, ignora nosso gato, sem ver direto, com óculos juntado de durex, reclama da minha cachaça, fala que tudo tem que mudar. Fala que eu sou excessivo na minha cerveja, escute essa porra dessa música. Que nunca danço e quando vc dança, desmunheca. Não faça assim, faça, e me asse.
Vc me beija, boca grande, como se eu desperdiçasse a melhor das chupadas. Como se sua boca, no meu pau, fosse a melhor coisa do mundo. E quando vejo suas fotos, invejo quem possa vir a lhe ver. Sabem de nada, inocentes, não sabem que quando vc se deita, toda vergada, mil piruetas, com as cores todas no seu rosto, no sonho bom, sem pensar no outro, vc já dormindo, diz, não adianta nem tentar me esquecer.
Lembro, no dia que ele me deixou, pequeno ainda, naquela cidade, que muitos cabeludos andavam juntos, de calças desbotadas, dizendo já é da minha cabeça, eu sei que consigo ser melhor, um dia, um dia...
E assim ele foi embora. Nunca mais ouvi falar em seu nome. Até o dia que ele se candidatou. E, hoje, minha mulher, disse, ele me lembra vc.  Enquanto me pedia que trepasse para ter outro filho.  
E ela estava com a lingerie. Ela tinha as curvas todas. A mais saborosa das bucetas. Se eu gostasse disso, lambia ela inteira. Passava folha por folha, como quem lê como um livro precioso, daqueles raros... cujas folhas, há muito não tocadas, dissesse ao primeiro dos pesquisadores, bem assim, estou a sua disposição.
Nem gosto de ler. Muito mal assisto filmes. Sou ocupado com a pior das anedotas. Venho, certeiro, dia sim, dia sim, toda hora, aquela mesma do cartão batido. Venho e vou e ela ainda quer ser comida, quer fazer mais, quer filhos, filhos como eu.




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Ele bebe demais. Trabalha demais, tempo, por que vc não entra num acordo comigo?
Limpo o dia todo, limpo assoalho, limpo borralho de nariz, limpo o que não pode ser limpo.
Tomo banho, como quem lava um assoalho, peça por peça, folha por folha, afinal, nunca gostei do meu cheiro, nunca gostei daquilo que, em mim, me chamava tanto.
E assim eram os dias, seja lá que dias foram aqueles, anos, talvez meses. A irmã dele, um dia, me deu, numa brincadeira de quem vai se amarrar, um fio dental, de renda amarela, e todas riram juntas, hoje vc vai dar... é só tomar um vinho, desce que é uma beleza.

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Ela trouxe vinhos, cerejas e camisinhas. Eu sou homem. Eu sou homemmmmmmmmmmmmmmmmmm...... Ela escolheu a música escolheu quem gozou, o tom, o toque. E, durante, pequenos bocados, bocadilhos, quando pensei nele, enquanto ela em mim, me sugava, pensei em quanto me faço homem...









Um comentário:

  1. Não sei o que dizer, ou melhor, sei sim. Cada dia fica melhor e já dá pra juntar em um livro. Bobamente, fico tentando descobrir as motivações de cada um dos contos. Já tive um desses e fiquei encantada, mas as motivações são irrelevantes, os sentidos apurados, metamorfoseados em palavras, nos fala do intransitivo.

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