segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Vida dentro do arco-íris

Um dia terei um barquinho próprio, como um cantinho colorido, bem arco-íris. Nesse dia, já terei uma remuneração como os nossos pais, daqueles dos outroras, quando meu lugar era do fora da fome, e vou poder passar uns 20 anos pagando, de pouco a pouco, o programa do barco para chamar de meu e seu. E não terei medo, o sol cozinhará meu almoço, minha irmã estará lá, minha mãe, minhas amigas, com a bancada aparecida toda farta para todos, porque sei que o mar, todo amar em sua empatia para os todos, molhará o chão do barco com a sua fartura toda. Teremos peixe, algas, mariscos, de todas as coisas tão parecidas. Nele sei que cantaremos juntos, que alguém pegará um violão, outro um ukulele, outro um bongo, mais alguém um triângulo... quem souber tocar, nos tocaremos, quem não souber, recitará algo de seu, ainda que feito por outro ou por si. Assim, teremos a vida do lado bom também. Nunca mais precisarei, eu ou outra de mim, atravessar as areias da praia, porque estarei nos braços já de Iemanjá, não mais com um saco de lixo recolhendo e me dizendo sorte, encontrei latas para trocar por 7 reais, quando precisaria de um cento e vinte para um gás, pois ainda não tenho meu barco, tendo filhas me esperando na casa para um cozido, quando o próprio sol cozinha muito mais. Cabeça quente, o lenço já não protege. Assim, hoje, apenas, hoje, levarei para casa o que consegui para o botijão e a imagem daquele barquinho, verde, branco, azul, vermelho, com que sonho que seja o meu próprio, dos dentros dos arco-íris. Meus olhos não serão mais marejados, apenas mareados e assim, meu saco de latas, será a botija dos meus dias.

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