As teclas não paravam e o som que
vinha, vinha como fumaça. Em espirais sinuosos. Olhou pro corpo cheio dela,
cheia, rechonchuda. As ancas relaxadas de encontro ao lençol branco,
formando uma tela linda de café com leite. Seu corpo era jazz e sempre lhe
trazia uma tristeza blue.
Não conseguia pensar em como
retê-la, não conseguia pensar em como mantê-la. Seu pensar não ia além da sua
lembrança, demente de botá-la estirada toda em sua boca, arcando com o peso nos
lábios. Secura de cigarro, era assim que a desejava. Se o seu desejo tivesse
uma trilha, daquelas das novelas e dos filmes de amor, seria suave e doce como
Norah, seria forte e rasgante como Amy.
Psiu! Ela acordou. Ronronante, seu
corpo virou-se pra ela. Ela a viu sentada, apoiada nas paredes, unhas longas,
cigarro nos dedos, sorriso displicente e compenetrado. Venha. E foi. Por cima
dos lençóis, por baixo dos panos todos, sentir o cheio de amor amanhecido, de
amor matutino, hálito marcado, almiscarado.
Enquanto a beijava, sentia sua
boca se fechando, como a se resguardar do cheiro de ontem. Pressionava assim
mesmo, até que a sentiu se abrir. Não desejava os amores higiênicos, queria
mesmo era o cheiro forte e misturado das bocetas. Dia após dia. Ela sempre
achou o amor feito de dia o mais simultâneo de todos. Tinha a energia solar, a
vontade de montar, tinha a lembrança enluarada na boca, gosto de ontem, cigarro
mascado, e promessa de dias enroscados...
Ah, se, hoje, tivesse um
cigarro... teria o gosto novamente dela, segura de tê-la amanhã, por entre os
dedos, cheiro marcado abaixo das unhas, retendo-a e mantendo-a por
mais um dia, enquanto caminhava com a mão no rosto, sorrindo sobre quase tudo.
O cigarro, como toda dependência alucina e nos faz perecer inaudível e invisivelmente, mas como viver sem dependências? Substituindo vícios/desejos?
ResponderExcluirComo sempre, viver é problematicamente maravilhoso.
O cigarro, como toda dependência alucina e nos faz perecer inaudível e invisivelmente, mas como viver sem dependências? Substituindo vícios/desejos?
ResponderExcluirComo sempre, viver é problematicamente maravilhoso.
Pedro, Pedro, será que és mesmo pedra?
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